Projeto Cartografias Têxteis: Exposição local em Alcabideche
Organizar esta exposição é um ato de profunda nutrição da liberdade porque estes quadrados podem ser lidos e
vistos por qualquer pessoa, de qualquer canto do mundo, de qualquer idade, de qualquer género, de qualquer
perspetiva cultural, credo ou fé.
Não nos pertencem, estes quadrados, embora sejam fruto de atos íntimos e anónimos. Por isso, viajam pelo mundo
e não voltam, antes, passam a ser património do Outro que os recebe.
Organizar esta exposição – e qualquer outra deste Projeto Cartografias Têxteis, atrevo-me a dizer, é um ato de
profunda nutrição da liberdade porque transpira humanidade.
Faz um ano que este grupo foi impactado por um quadrado deixado na “Cascata” – nome que, carinhosamente,
damos à instalação vermelha que é salpicada por quadrados brancos com palavras.
Velado pelo anonimato, alguém escreveu: “Não faço falta”.
Um perfeito domínio das palavras que nos trazem silêncio, este quadrado.
Vagarosamente, cada um de nós se encaixou naquele desenho, daquelas palavras, naquele quadrado de onde
transbordava algo tão imenso quanto avassalador.
Organizar esta exposição é um ato de profunda nutrição da liberdade porque é também a assunção de que todos
temos este poder de criar algo que toca o Outro.
E se todos temos esse poder de criar algo que toca o Outro, não importa a idade em que o fazemos. Envelhecer
activamente não pode querer dizer, apenas, estar e manter-se ocupado. Pode e sobretudo deve querer dizer que
estamos presentes na Vida uns dos Outros.
Escorregando por este pensamento, vos digo: olho para este grupo de mulheres e de um só homem como o Futuro.
Eles são o Futuro porque carregam consigo esta vontade de significar algo, porque têm uma Vida para contar, porque
têm a disponibilidade para estarem presentes na Vida do Outro, transformando-a.
É delas, e dele, as palavras que se seguem, transportando consigo um pedido
Carla Martins, 24 de Fevereiro de 2025
