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‘Reminiscência sensorial Reencontro com a lã e o barro’

Reminiscência sensorial
Reencontro com a lã e o barro
Por Samira Jamouchi

As reminiscências sensoriais, as memórias dos sentidos, são práticas e processos que ativam a minha mente, as minhas mãos, os meus sentidos e, e, e…
Através de práticas criativas, ações exploratórias e experiências sensoriais, reencontro os materiais naturais através de uma experiência incorporada.

Este projeto insere-se numa jornada que se inscreve e desenvolve continuamente através de práticas criativas, ações exploratórias e experiências sensoriais. O meu corpo material-sensorial conecta com a materialidade do tecido e do barro através de técnicas centenárias. Este encontro reúne a fragrância da lã natural, do sabão de pinho e da terra, a temperatura da água morna para soltar as fibras do feltro e o calor do forno para queimar o barro. O meu corpo material encena gestos que me fazem lembrar antigos rituais coletivos. Recordando um conhecimento adquirido através de atos/gestos repetitivos e pensamentos que passaram por gerações de coabitação na terra, entre ovelhas e humanos, aquilo a que gosto de chamar “relationsheep”.
Quando trabalho com lã crua, utilizo um tipo de lã que tem recebido pouca atenção na Noruega. Este tipo de lã é desconsiderado, ainda que tenha aquilo que considero bonitas cores naturais, com tons de cinzento, castanho e preto. Este tipo de lã é negligenciado porque as fibras coloridas não podem ser tingidas com cores artificiais como o vermelho, o azul ou o verde. Mas também porque a parte exterior da fibra (parte superior) é menos adequada para fiação ou feltragem.
Este tipo de lã provém do que chamamos “spælsau” em norueguês (Short Tail Landrace em inglês). Utilizo a feltragem como técnica quando trabalho com este material altamente maleável. Adapto esta abordagem de conhecimento material profundamente enraizado, conhecida como uma das técnicas têxteis mais antigas do mundo.
A lã em geral, e sobretudo quando não é branca, é um material desprezado nos três países a que estou ligada. Pela terra dos meus antepassados: Marrocos. Através do meu local de nascimento: Bélgica. E o país em que vivo há 27 anos: a Noruega. Onde outros vêem imperfeição, eu vejo potencial nas fibras que têm a capacidade de se tornarem estruturas fibrosas complexas. A matéria-prima tem aspetos orgânicos que me convidam para a sua paisagem não homogénea, composta por fibras macias e ásperas. A lã crua convida-me a ver qualidades que passam despercebidas. A produção do tecido de lã feltrado é diferente da tecelagem. A tecelagem exige um movimento regular e repetitivo com fios que ligam a trama e a teia. A feltragem de lã é mais aventureira. Não executa uma regularidade repetitiva. A feltragem de lã é a transformação de fibras soltas numa abstração orgânica. Uma superfície multidirecional e centrada que convida o olhar a ver e a mão a sentir uma paisagem e uma superfície que não é monótona.

 

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37º Encontro da APECV: ‘Ações Artísticas em tempos esquisitos’, Viseu, 24 e 25 de maio de 2025

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