Silvia Casian
Comunicações orais
Do improvável ao futuro provável e sustentável da educação artística visual: uma pragmática da imagem e o bem-estar dos alunos
Resumo
Ao refletir sobre o futuro sustentável da educação artística visual (EAV) surgiu o pensamento de que as conquistas relevantes nas diversas áreas do saber, inicialmente, foram sonhos. Visões deslumbrantes e ideias improváveis que com o passar do tempo não só continuam a existir, mas ainda geram novas realidades e perspetivas de evolução futura. Conforme Eça (2009), a educação visual como educação artística para a compreensão abre caminho a novas estruturas e estratégias de aprendizagem para o próximo século. A grande complexidade comunicacional carateriza o contexto didático da EAV. Para compreender melhor as particularidades da EAV no ensino básico, desenvolveu-se o estudo sobre o processo de ensino e aprendizagem numa abordagem comunicacional. Nesta perspetiva, a imagem adquire dois aspetos diferentes. Por um lado, a imagem é vista como uma linguagem, produto final do processo criativo e início da receção artística. Por outro lado, a imagem é um método de ensino e aprendizagem. A imagem como instrumento de comunicação pode adquirir uma dimensão pedagógica. Assemelhando-se ou confundindo-se com aquilo que representa, visualmente imitadora, a imagem pode tanto enganar como educar, reflexo, ela pode conduzir ao conhecimento (Joly, 2007). Vygotsky (1998) salientou o efeito educativo da arte, especificando que a obra de arte em si não é boa nem má, ou seja, implica possibilidades de bem e de mal, e que tudo resume-se ao emprego e ao destino que se de a esse instrumento. Conforme o autor, a perceção artística necessita aprendizagem. A arte é a comunicação consigo mesmo e com o mundo. As artes no mundo contemporâneo confrontam-se com novos desafios e solicitações. A reprodutibilidade técnica da obra de arte mudou a própria natureza da arte, as relações entre os meios tecnológicos e a arte alteraram a sensibilidade e a perceção humanas (Benjamin, 2012). Além dos benefícios trazidos, os médias, principalmente, a Internet, possibilitou o aparecimento de um fenómeno de vandalismo virtual das obras de arte. Nessa situação alarmante, a EAV poderia ser um espaço significativo para desenvolvimento do conhecimento e da valorização da arte e da personalidade de cada aluno(a). A comunicação didática destaca-se pela sua claridade, pelo seu caráter bilateral e interativo. Pela sua dimensão formativa, opõe-se à comunicação monológica específica aos meios de comunicação de massa e aproxima-se da comunicação artística que valoriza a subjetividade do recetor. A conexão direta com o mundo sensível é que marca profundamente a comunicação visual, sendo a imagem que tem essa dupla ligação, por um lado, relaciona-se com o mundo sensível (objetivo) e, por outro lado, com o mundo simbólico e subjetivo. Os resultados do estudo sobre a especificidade da configuração da comunicação nas aulas de educação visual mostram que a compreensão da imagem pelos alunos relaciona-se intimamente com o gosto pela imagem e pela atividade artística. Os alunos-adolescentes geralmente não gostam das imagens que não conseguem compreender. O bem-estar dos alunos depende das caraterísticas das próprias imagens, da clareza da comunicação didática e da autoavaliação dos alunos para realizar a tarefa proposta pelo professor (Casian, 2018; Chesebro & McCroskey, 2001; Pavlou, 2006). A associação do que se vê na imagem com os assuntos, vividos ou imaginados pelos recetores, determina em grande parte a interpretação da imagem. Todos os elementos da imagem contribuem para a sua comunicabilidade, mas o assunto da imagem é o elo de ligação com a cultura da criança e o contexto sociocultural em que se insere (Arnheim, 2006; Vygotsky, 1998). Quando os alunos-adolescentes analisam o conteúdo duma imagem, eles falam basicamente sobre os assuntos, sendo a estrutura formal menos acessível para a compreensão/descrição. As particularidades psicológicas dos alunos e a comunicabilidade da imagem visual devem ser consideradas na construção de estratégias pedagógicas para a EAV. A compreensão dos conceitos dos domínios da comunicação, da psicologia da perceção, da imagética e da criatividade questiona a eficácia dos métodos pedagógicos tradicionais baseados na comunicação verbal para o ensino das artes visuais. Sem negar a importância dos métodos pedagógicos verbais, procuram-se estratégias didáticas comunicacionais que facilitam a interiorização do código visual, estimulam a expressão visual e criativa, aprofundando o conhecimento das imagens. Pondera-se que a pragmática da imagem, uma comunicação contextualizada, pudesse efetivamente contribuir para melhorar o desempenho e o bem-estar dos alunos proveitosamente ancorados em contextos socioculturais multifacetados através de uma educação artística visual sustentável.
Bibliografia
Arnheim, Rudolf (2006) Arte e percepção visual. Uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Thomson.
Benjamin, Walter (2012). Sobre arte, técnica, linguagem e política. Lisboa: Relógio D’Água Editores.
Casian, Silvia, Lopes, Amélia, & Fátima, Pereira (2018). (Re)thinking emoticons in visual education activities: students’ experiences. International Journal of Art & Design Education, 37 (3), 399-412. DOI: 10.1111/jade.12134
Chesebro, Joseph L. & McCroskey, James C. (2001). The relationship of teacher clarity and immediacy with student state receiver apprehension, affect, and cognitive learning. Communication Education, 50(1), 59-68. http://dx.doi.org/10.1080/03634520109379232.
Eça, Teresa T. (2009). Perspectivar o futuro: o papel central da arte educação no ensino. In Henrique Lima Assis, & Edvânia Braz Teixeira Rodrigues, (Org). O ensino de artes visuais: desafios e possibilidades contemporâneas (pp.107-113). Goiânia: GO.
Joly, Martine (2007). Introdução à análise da imagem. Lisboa: Edições70.
Pavlou, Victoria (2006). Pre-adolescents’ perceptions of competence, motivation and engagement in art activities. International Journal of Art & Design Education, 25(2), 194-204.
Vigotski, Lev S. (1998). Psicologia da arte. São Paulo: Martins Fontes.