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Estêvão da Fontoura Haeser 

Estêvão da Fontoura Haeser    e  Alberto Semeler 

IFRS / PPGAV-UFGRS (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e Programa de Pós Graduação em Artes Visuais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul)

Docência obsoleta e a sala de aula expandida: da escola ao museu

 

 

Resumo

Nós, que já caminhamos sobre a Terra há mais de quarenta anos, fomos criados no auge das mídias de massa, quando a televisão exercia influência cabal sobre a sociedade, o rádio ainda moldava os gostos musicais e as revistas impressas vendidas em bancas estabeleciam os padrões de beleza e ditavam o que era a moda de cada temporada. Nossos estudantes, por sua vez, nasceram após os anos dois mil, já tendo um e-mail, cresceram usando e abusando de redes sociais, por onde se comunicam. Ali, não só consomem, mas também produzem conteúdo a ser consumido, angariam likes e engajam (ou distraem) milhares de outras pessoas com sua imagem. Muitos são ou se tornarão Youtubers, Tiktokers, Digital Influencers, profissões que nem poderíamos imaginar que existiriam, enquanto cursávamos nossas graduações e a internet engatinhava. Neste contexto pós-mídia, onde as possibilidades abertas pelos avanços tecnológicos das últimas décadas são inúmeras, vemos artistas criando das formas mais diversas, usando computação, robótica, programação, videomapping e modelagem 3D, só para citar algumas. Enquanto isso, na sala de aula, no ensino curricular de arte, o que é trabalhado? O conhecimento que se desenvolve na escola é suficiente para formar cidadãs e cidadãos capazes de exercer sua cidadania com criticidade e autonomia? No complexo momento em que vivemos, com a recente e decisiva influência das possibilidades abertas pelo uso da Inteligência Artificial, ensinar técnicas de desenho ou pintura ainda tem relevância? Com o movimento contra-colonial no ambiente acadêmico e o movimento negro no ambiente político e social, o surgimento de políticas públicas com o objetivo de reduzir desigualdades sociais e promover reparação histórica à população negra, devido aos efeitos causados pela escravização, estabelece um novo cenário na educação pública. O conjunto de leis protegido sob o guarda-chuva do Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010) gerou um contexto que vem transformando lentamente a realidade da educação brasileira, incluindo a população negra e indígena no currículo e aumentando a presença destas pessoas em espaços historicamente elitizados e embranquecidos, como a universidade pública, por exemplo. Assim, ser um professor de arte negro, que também é artista e cuja obra artística vem atingindo alguma relevância nos contextos local, regional e nacional nos últimos dez anos, com reconhecimento por prêmios recebidos e com exposições e obras em acervos de alguns dos principais museus e galerias da Região Sul, provocou a seguinte sobreposição: o professor é, ao mesmo tempo, o artista e sua obra é o assunto da aula. Alguns dos desdobramentos possíveis desta dupla atuação e desta sobreposição de dimensões são expostos no presente artigo, evidenciando a potência das relações estabelecidas no ambiente da sala de aula, quando estudantes têm protagonismo e suas ideias são respeitadas e valorizadas.

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